Ontem foi o dia do médico veterinário e acho o momento muito propício para este texto. Outro dia um colega me perguntou como fazer para que um cão se sinta bem no veterinário e não tenha seu comportamento alterado e se mantenha tranquilo. Eu comecei a pensar em uma situação que ocorreu há alguns meses atrás. Eu estava sentada na recepção de um consultório e havia também uma criança de uns 10 anos com seu poodle do colo. Um adulto do lado lhe perguntou: mas por que você não o coloca no chão? (o cão estava tremendo). A criança disse: é que ele vai sair correndo de medo! Pois bem, muitas pessoas cometem esse erro de pensar: ele vai fazer isso, vai fazer aquilo, e acabam evitando que a situação ocorra, já se antecipando com a justificativa de que o cão não vai se comportar bem. O que deveria ser feito, não só nessa situação, mas em muitas outras é expor o animal a determinadas situações e a partir daí observar seu comportamento: se o cão agir bem recompense-o mostrando que seu comportamento foi não só aceitável como também saudável e que ele deve continuar assim. A recompensa deve ser algo natural e sincero, feito com entusiasmo, seja ela alguma comidinha gostosa, um brinquedo que o cão gosta ou um bom carinho. Se o cão se comportar mal deve haver direcionamento para que o cão entenda que aquele não foi um bom comportamento e que ele não deve mantê-lo. Gritar e reclamar: não faz isso cachorro mal educado, não faz xixi aí, pára! não adianta de nada.
Uma boa forma de ambientá-lo melhor é deixá-lo explorar o ambiente, guiá-lo até onde ele pode ir e deixá-lo cheirar o chão, pessoas, objetos e o que estiver a sua volta. Infelizmente muitas pessoas leigam não veem bem o ato de cheirar do cão e procuram evitar isso, mas é dessa maneira que ele identifica o ambiente e fazer com que o consultório se torne algo conhecido e seguro para o cão é essencial. Um cão pode demonstrar insegurança e estresse em um consultório veterinário pelo fato de ser algo que ele não pode controlar, muitas coisas estão acontecendo e o imprevisível gera ansiedade (o mesmo vale no banho e tosa).
Outra dica que melhora muito a vida os veterinários e que todos os veterinários deveriam informar aos seus clientes. Desde que o cachorro chega na sua casa ou apartamento você deve acostumá-lo aos mais diversos estímulos. Cortar as unhas regularmente, pentear se for necessário, escovar os dentes de preferência diariamente (seja com uma gaze com água, um dedal ou escova de dentes própria para cães), limpar os ouvidos (de preferência com algodão, não com cotonete). O que acontece na sua maioria é que as pessoas deixam para os banhistas, tosadores e veterinários essas atividades, e como não está acostumado, o cão naturalmente estranha e muitas vezes não se comporta bem, pelo fato de não estar habituado. A situação se complica porque muitos desses profissionais não sabem como manejar isso e acabam continuando o serviço, ignorando latidos, mordidas e tremedeiras, e o cão fica mais incomodado e menos ele gosta de tudo isso.
Todas as atividades a serem feitas rotineiramente devem ser prazerosas e agradáveis para os cães, não devem ser feitas de forma mecânica. Fazer o cão ir aceitando aos poucos, gradualmente, faz parte do processo. No primeiro dia de escovar os dentes, por exemplo, simplesmente mostrar o material que será utilizado e novamente deixá-lo cheirar. Já no segundo dia introduzir o material na boca do cão, deixando-o mastigar um pouco. No terceiro dia começar a fazer a escovação propriamente dita, ainda que em pequenos movimentos que durem pouco. E aí no quarto, quinto dia e assim por diante já ir aumentando gradualmente o tempo de duração até o cão estar adaptado. Paciência, dedicação, disciplina, foco, direcionamento, constância e consistência são palavras que não devem faltar.
Outra dica importante: não crie muitas expectativas. Muitas vezes ficamos com tanta expectativa em relação à forma como o cão vai se comportar em determinado lugar que isso acaba gerando ansiedade e até mesmo nervosismo, e o cão pode muito bem perceber isso e sentir-se inseguro (afinal de contas, se a pessoa que está com ele e o conduziu até o lugar está insegura, por que ele não estaria?). Manter a calma sem esquecer da ação.
Outra dica que pode funcionar para pessoas que moram perto dos consultórios veterinários. Leve seu cão a pé em um passeio gostoso e acostume-o a isso. Dessa forma ele vai associar a ida ao veterinário a um momento de ótima interação social com você e a hora de ir ao veterinário vai ser menos tensa.
Para finalizar, brinque com o seu cão na sala de espera do consultório e na mesa de atendimento (se ele estiver em condições pra isso), interaja com ele, com as pessoas a sua volta e com os outros animais, tornando o ambiente mais leve.
Tayana Briceño, veterinária zoopsiquiatra com muito orgulho
8445-3709/32365409
comportamentoanimal@live.com
*Em breve vários cursos de comportamento canino e agora também felino!
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